quarta-feira, 29 de junho de 2011

CAPOGRASSI: Em busca das origens

Imagine um lugar distante, do qual sempre ouviu falar desde criança. Foi a partir desta busca, e realização de um sonho, que segui em direção ao interior de Salerno (Sul da Itália). Fui atrás de minhas raízes, praticamente escondidas a cerca de uma hora de viagem, de carro, morro acima. Era como estar indo para o céu. E encontrei o lugar já perto das nuvens.

Foi fácil reconhecer o mesmo panorama que cresci ouvindo falar

Uma pequena aldeia encravada nas montanhas, daquelas que parecem ter saído de um conto de fadas, de tão belas paisagens, onde se pode ver o mar tocando os montes repletos de oliveiras e figueiras, proporcionando um lindo visual e uma bela atmosfera. Cheguei vivo no céu!

É lá que o céu beija o mar

Claro que a coisa fica mais bonita quando, quem narra, já possuiu repertório de memórias emotivas do lugar. Mas garanto que até quem for lá pela primeira vez, vai sentir a magia do local. Até por que, a fama da beleza litorânea daquela região, banhada pelo mar Tirreno, já é mundialmente conhecida e por isso fica fácil de imaginar do que estou falando.

Falo do cheiro presente no ar, do povo hospitaleiro, do sabor dos frutos que a terra dá, aromatizados pelo tempero do mar, que sobe levado pelo vento, e perfuma tudo. Oliveiras que uma vez por ano se permitem colher aos montes; e figos que, secos artesanalmente e naturalmente ao Sol, é um espetáculo ao mais exigente paladar e o olhar. Água na boca e lágrima nos olhos.

As oliveiras: com redes enroladas, é uma linha de produção natural de ótimos azeites

Figos: Secos ou recém-colhidos saciam olhos e estômago

Meu avô deixou essas terras (que hoje dever ter um pouco mais de 200 habitantes), a mais de meio século, partindo para o Brasil. E eu, pela segunda vez, fazia o caminho inverso por vários motivos: estreitar os laços entre os continentes; rever sua gente e colher material para eternizar a sua, e um pedaço da minha, história. Registrei quase tudo. As construções; as crenças; procissões da região e uma beleza natural, sem igual.

Casas e ruas resistem ao tempo e preservam a memória lá no alto

Estátua de Padre Pio e procissão da Madonna delle Grazie: a religiosidade abençoa a beleza

Uma curiosidade de lá, é que antigamente o ditado que identificava o pequeno paese era: Capograssi, fa la Croce e pass (Capograssi, faça a cruz e passe) fazendo referência a uma época em que o povoado vivia uma época mística, cheia de acontecimentos difíceis de acreditar nos dias de hoje, onde até nesses lugarejos não existem mais espaços para os milagres. E da última vez que eu lá estive, fiz o mesmo sinal, mas na intenção de pedir para poder voltar e novamente experimentar coisas que não consegui nem registrar, nem levar desta vez. E não foi por conta de peso da mala.

A vizinha Serramezzana (onde fica a prefeitura) e uma bella massa! Pedaços do paraíso.

Um divino tramonto para eternizar e guardar para sempre

Não consegui portar o aroma; o carinho das pessoas e nem a imensa beleza da Lua que brilha toda noite por lá. A máquina fotográfica não conseguiu captar. Mas interpretei isso como um novo convite para retornar e reguardar nas retinas. Seria minha próxima missão, pois dessa última vez, conclui a que eu tinha. Escrevi, no presente, um livro contando a história da minha família (meu passado), impedindo que a trajetória se perca no meu futuro, enquanto os capítulos da minha vida vão seguindo. Assim como a minha viagem pela bota.

Na entrada, uma placa identifica a tradição. Nas páginas de meu livro, registrei a emoção

Fernando Ferrari (fffernandoferrari@gmail.com) é brasileiro de nascimento, francês de cidadania e italiano de coração! Publicitário, escritor amador, mora em São Paulo, já esteve na Itália duas vezes e mantém o blog www.cabecatroncoetextos.blogspot.com Um dia pretende trabalhar e viver mais tempo por lá, mas enquanto não surge uma oportunidade, escreve para diminuir a saudade.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

SALERNO: A primeira impressão não é a que fica

Apesar de eu ter desembarcado em Milão; feito uma conexão até Napoli, para aí sim, conseguir chegar ao meu destino, Salerno; eu considero esta última cidade como sendo a minha porta de entrada na Itália. Até por que, nas demais, eu não saí dos aeroportos. Assim, cheguei!

E tirando a incrível e inesquecível visão do Vesúvio (o vulcão de Napoli), que me distraia e encantava no caminho até a cidade vizinha, na costeira Amalfitana, meu destino final; somada a parada na estrada para ver o porto local, confesso que a primeira impressão dela, não foi nada legal. Mas já era tarde para voltar.

Vesúvio: A companhia constante pela estrada


Porto de Salerno: um dos mais importantes e movimentados do país.

Estava escurecendo, chovia e o clima era abafado. E eu, confuso horário, enjoado e cansando, me sentia pior que no primeiro dia de aula. Com o agravante da distância até a minha casa, agora, ser muito maior. Além de suspeitar que a lição que eu era forçado a aprender, a partir daquela hora, seria muito pior. Minha mãe não estava do lado.

Mas bastou um merecido descanso para, no dia seguinte, tudo melhorar! E eu poder enxergar com bons olhos o que aquela viagem, que começava naquela cidade, iria me proporcionar. Nada como uma boa noite de sono para colocar as coisas no lugar. Afinal eu sou um homem e não um saco de batatas!

Acordei, o dia tinha melhorado e me convidava para o primeiro passeio nesta nova terra, a segunda mais populosa da região da Campania. As ruas são estreitas, os prédios muito juntos e as calçadas apertadas. Mas é questão se costuma. Isso explica a quantidade de carros pequenos rodando por lá. Mas bastou uma curva ali, outra acolá, para avistar a avenida Lungomare e uma luz naquela espécie de túnel, clarear. Ainda bem!


Ruas estreitas estimula a compra de carros estreitos

Se fosse na Inglaterra, podia jurar que o Mr. Bean estava por perto

A paisagem ficou mais clara, as pessoas mais visíveis e o clima, igual a qualquer cidade litorânea, se mostrava. Seja nos passeios feitos pelos mais idosos no calçadão; passando pelos jovens tomando um gelato até os adultos que circulavam trabalhando numa cidade agitada enquanto eu passeava e conhecia as muitas pracinhas espalhadas e as feiras livres. O local ideal para quem quer conhecer a alma de uma cidade e se sentir parte do povo.


Crianças, jovens, adultos e idosos: todos dividindo o mesmo espaço

Aos poucos fui entrando no clima, me acostumando com a paisagem das montanhas que cercam o local, distante vinte quilômetros de Napoli na região Sul da península, de onde partem trens para várias regiões do país e também por isso, acabei passando apenas uma semana por lá. Mas o suficiente para dar tempo de me recuperar da má impressão inicial e fazer as pazes com a cidade, que lembra uma mini Napoli, antes de partir para outra região, querendo voltar mais vezes! Arrivederci! E assim, parti!

Vista panorâmica da cidade antes de partir para além das montanhas


Fernando é brasileiro de nascimento, francês de cidadania e italiano de coração! Publicitário, escritor amador, mora em São Paulo, já esteve na Itália duas vezes e mantém o blog www.cabecatroncoetextos.blogspot.com Um dia pretende trabalhar e viver mais tempo por lá, mas enquanto não surge uma oportunidade, escreve para diminuir a saudade.